Thursday, December 29, 2005

Resistentes

Ai a tentação do olhar tão curto, do estar ensimesmado !
Lá vou eu, moura, rumo ao sul, rumo ao sol, encontrar-me com as mulheres da minha família. Quatro gerações delas : minha avó, minha mãe, minha irmã e eu e, finalmente, minha sobrinha, menina ainda.
Mulheres, entre lágrima e esperança, entre dor e alegria, resistentes, muito, à vida e ao tempo. Começaremos mais um ano juntas.

Wednesday, December 28, 2005

Onde estão os bons propósitos ?

Pela manhã, ali na cafetaria da esquina, perto do meu local de trabalho, em conversa com o Sr. Afonso, que simpaticamente me costuma aviar a bica, dizia ele que nesta idade (dele, um pouquinho mais novo do que eu, julgo) já só devemos andar “bem dispostos”.
Que isso das correrias, do stress é para a rapaziada nova, dizia ele.
E eu concordando: “ Se nos tentarem pôr mal dispostos, a gente não deixa”.
Pois o bom propósito de “ a gente não deixa”, lá se foi por água abaixo, hoje mesmo.
Acabo o dia com tristeza, pois levei patada de onde não esperava.
Só não vou deixar de acreditar que “amanhã é outro dia”.

Inesquecível Sophia

Atrevo-me, a título de modestíssima homenagem, a trazer aqui um poema de Sophia, Menina do Mar das nossas memórias mais doces:

Bebido o luar

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Tuesday, December 27, 2005

Esopo é que sabia

Muito se publicitou que o BES ia fazer nevar em Lisboa, na Rotunda do Marquês de Pombal.
No dia aprazado para começar a nevar, não nevou.
A Câmara Municipal não tinha autorizado, podia haver riscos para o trânsito, questões de segurança, enfim !
Depois, sabe-se lá porquê, deixou de se pôr esse problema da segurança e houve realmente qualquer coisita. Eu vi, ontem.
Mas tão ténue, tão chover de baixo para cima, se é que se pode dizer desta maneira, que só se pode aplicar o que dizia o Esopo numa das suas fábulas - " A Montanha pariu um rato".

Isso de ser jovem...

Deu-me hoje uma vontade de falar de coisinhas mais triviais, daquelas que não interessam mesmo nada.
Estava aqui a martelar-me na cabeça aquele dito “ ah pois, a malta é jovem” .
Fiquei a cogitar no que é isso de ser jovem...
Há uns anitos era-se jovem até aos vinte, vinte e dois, máximo dos máximos, vinte e cinco...
Moçoila que não casasse até essa idade, já se adivinhava que ficava para tia.
Depois, com os subsídios que começaram a vir para Portugal, a vários títulos, mas sobretudo na âmbito da PAC, comecei a perceber que tínhamos jovens agricultores até aos trinta ou até aos trinta e cinco anos, já nem tenho certezas.
A mesma coisa se passou com os empréstimos bancários, para aquisição de casa própria: a idade dos jovens tem alargado, alargado, já deve ter os quarenta anos como limite para contrair o empréstimo e os oitenta como idade de resolução do contrato.
E, para não alongar muito a coisa, que já está ficando chata, perdoe-se-me a expressão, só falta referir que, há dias, numa reunião onde estariam mais de quarenta mulheres, de todas as idades, só havia duas com alguns cabelos brancos: uma senhora de oitenta e muitos anos e esta criatura que vos fala da coisa.
Todas as outras mulheres, mais novas, da minha idade ou mais velhas, eram ruivas, morenas, loiras, mas não se atreviam a ter uns fiozitos brancos aos lados da face, aquilo a que, nos homens, se chama o charme das cãs e, nas mulheres, é sinal evidente de que isso de jovem já era...

Monday, December 26, 2005

Recordar Ary dos Santos

Entre Natal e Ano Novo (bom momento) e porque gosto de poesia (boa razão) trago aqui hoje à lembrança Ary dos Santos.

Kyrie:

Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

Ouvi o P.M.

Confesso que ouvi, de fio a pavio, a mensagem do nosso P.M. Sócrates ontem à noite.
Sem pensar, que nestas coisas o subconsciente também funciona, só me saiu este comentário:
"Teve o mérito de não ser comprido" !

Ternura, Luisa...

Acontece vermos alguém em conversa com outrém, pegar na carteira, tirar de lá e mostrar uma foto do filho, do neto...
Meu pai costumava ter na carteira uma foto do cão.
Na família, fazíamos uma certa chacota com ele por ter a foto do cão.
E ele, de olhar malandro, adoçando a voz :
"Este é tão meu amigo, faz-me tantas festas, nunca me faltou ao respeito..."
E hoje, tantos anos depois dele ter partido, apeteceu-me trazer aqui este assunto para ti, Luisa, minha irmã, na certeza de que vais sentir, como eu, uma onda de ternura aquecendo o peito.

Nome: Anamargens

Nas margens de mim, inundo-me dos outros.
Egocêntrica ?
Sei lá...
Sou assim e assim (me) gosto !

Friday, December 23, 2005

Isto de ser Natal mexe com a gente

Sabendo nós que o Natal é a apropriação cristã da celebração do Solestício do Inverno, sabendo nós que cada nascimento é um milagre da Vida, que cada criança é um ser único e precioso, como é que eu dou comigo a cantarolar o Silent Night a caminho do trabalho ?
Ironia maior é que o cantarolar era mesmo em inglês e eu nem sei cantar...
Até tenho a sensação de que as pessoas hoje andam mais animadas, mais sorridentes; será impressão minha ou as luzinhas, as compras, as reuniões de família fazem a festa ? O sentido religioso anda muito perdido, que eu lembro-me da época em que Natal sem "missa do galo" não era Natal...
Não interessa filosofar mais sobre o assunto, filosofia barata que é a minha, indiferente é que não estou, mexe comigo...
Bom Natal aos queridos Amigos que me incentivaram na ideia de "blogar" e a todos os que tiverem a paciência de me ler.

Trémulo primeiro passo

Hoje dou o meu primeiro passo como blogger.
Como tudo o que se desconhece nos assusta um bocadinho, quero apenas dizer que, aqui, virei de vez em quando, deixar pensamentos, desabafos, alguma história que me pareça interessante.
Será sempre algo sem pretensões, mas que me faça sentido.
Para primeiro post, sendo eu amante de poesia, aqui fica algo de que gosto:

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas

É urgente inventar a alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade