Para que construimos muralhas ?
Depois de ter cortado todos os braços que se estendiam para mim;
Depois de ter entaipado todas as janelas e todas as portas;
Depois de ter inundado os fossos com água envenenada;
Depois de ter edificado minha casa no rochedo dum NÃO inacessível aos afagos e ao medo;
Depois de ter cortado a língua e logo a devorar;
Depois de ter lançado punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus amores;
Depois de ter esquecido meu nome e o nome de minha terra natal;
Depois de me ter julgado e condenado a perpétua espera e a solidão perpétua,
Ouvi contra as pedras de meu calabouço de silogismos a investida húmida,
Terna, insistente, da primavera.
Octavio Paz
Depois de ter entaipado todas as janelas e todas as portas;
Depois de ter inundado os fossos com água envenenada;
Depois de ter edificado minha casa no rochedo dum NÃO inacessível aos afagos e ao medo;
Depois de ter cortado a língua e logo a devorar;
Depois de ter lançado punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus amores;
Depois de ter esquecido meu nome e o nome de minha terra natal;
Depois de me ter julgado e condenado a perpétua espera e a solidão perpétua,
Ouvi contra as pedras de meu calabouço de silogismos a investida húmida,
Terna, insistente, da primavera.
Octavio Paz
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