Friday, June 02, 2006

Leitura breve

Somos todos livres de fazer o que quer que queiramos fazer – disse ele nessa noite. – Isso não é simples e limpo e claro? Não é uma excelente forma de governar um universo?
- Quase. Esqueceste-te de uma parte bastante importante – disse eu.
- Ah, sim?
- Somos todos livres de fazermos o que quisermos fazer, desde que não magoemos ninguém – censurei eu brandamente. – Sei que querias dizer isso, mas deves dizer o que queres de facto dizer.
Subitamente ouviu-se uma restolhada na escuridão e eu voltei-me para ele rapidamente.
- Ouviste aquilo?
- Sim. Parece que está alguém... - Levantou-se e dirigiu-se para a escuridão. Subitamente riu-se, disse um nome que não percebi. – Não há problema. – Ouvi-o dizer. – Não, teremos todo o gosto em tê-lo connosco...não é preciso estar para aí sozinho...venha, é bem-vindo, a sério...
A voz tinha um forte sotaque, não era bem russo, nem checo, era mais da Transilvânia.
- Obrigado. Não quero importuná-los...
O homem que ele trouxe consigo para junto da fogueira era...bem, era estranho encontrá-lo numa noite do Midwest. Era um tipo baixo e magro, com ar de lobo, de aspecto assustador, em traje de cerimónia, com uma capa preta forrada a cetim vermelho, mostrando-se pouco à vontade à luz.
- Ia a passar – disse ele – este campo serve de atalho para a minha casa...


Richard Bach
in Ilusões