Monday, May 15, 2006

MÃOS - Alexandre O'Neill

Sob a forma de mão apareceu a ternura,
um dia, no teu queixo.

Carícia. Parece p'ra dizer, p'ra ciciar,
mas é para fazer
com uma leve, sabedora, quase preversa
mão...

Certas mãos ociosas como peixes
num aquário de melancolia.

Com as duas mãos apodero-me de ti,
retomo o teu corpo e com ele me entendo.

Pôr a mão a escrever e ir dar uma volta,
ao frio,
com a musa disponível...

Nem sequer uma mão morta
vem bater à minha porta!

Misturando a morte com a vida,
a mão de Antero, a mesma
que aprendeu a arte de compor!

Tantas mãos à terra confiadas
sem mais gesto nenhum para fazer!

(parte do poema)