Sunday, May 21, 2006

Como quem dá um rebuçado

Da revista Notícias Magazine, de hoje, 21 de Maio de 2006, da autoria de Eduardo Sá (psicólogo), de quem já outras vezes aqui transcrevi textos, também agora quero trazer algumas linhas, do artigo publicado sob o título “Os dias inúteis”.
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“Prefiro, portanto, que sejamos crianças para sempre. Sem que os dias úteis nos adormeçam a inocência, o espanto e o deslumbramento. E, apesar do supérfluo que pareça, reservando neles o direito de perguntar, por tudo e por nada, e até sempre: «Porquê?» (mesmo que isso pareça ser um valor que fica, porta-com-porta, com a inutilidade). E, por mais que isso só pareça tolerável ao fim de semana, que caiba, nos dias úteis, o direito de brincar (que é, como se sabe, uma experiência de encontro entre dois corações que se escutam e, entre si, inventam aberturas fáceis). E se, porventura, houver quem, com assombro, imagine os dias úteis como recantos, essenciais, de solidão (onde – cá dentro – o tempo se reparta entre o paraíso perdido, da infância, e um paraíso presumido, no futuro), que haja quem lhe diga que os amigos são uma colina (de onde se avista mais espaço do que aquele que se entala entre o passado e o futuro), e que as pessoas com quem trocamos o nosso amor são – por mais que isso pareça não caber no que os dias tenham de mais útil – o planalto de onde se avista o paraíso antes, muito antes, de o futuro, com a sua inutilidade, nos tocar”.

E pronto…gostei tanto, que não consegui resistir a trazer este belo pedaço de prosa.
Bem-haja, Eduardo Sá, por estas coisas que escreve para eu ler nos meus dias inúteis!