Wednesday, April 12, 2006

Volto a José Luis Peixoto

Já disse aqui, creio, que não leio duas linhas de José Luis Peixoto sem sentir arrepios na alma.
Vou deixar uma pequena amostra que, julgo, explica bem a razão do meu sentir:

Vertigem

somos tão novos e estamos tão perdidos. o teu silêncio dentro dos gritos das árvores, o meu silêncio sobre o entardecer. seria feliz se pudesse dizer-te: vem, vamos fugir de mãos dadas, amor.

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este livro. passa um dedo pela página, sente o papel como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.

este livro tem palavras. esquece as palavras por momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.

sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre a tua. damos as mãos quando seguras este livro.

não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.

pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.

in A Casa, a Escuridão
Temas e Debates
Actividades Editoriais, Lda.