Brokeback Mountain
Em resposta a compromisso assumido com RPS, no blog Fado Falado, aqui fica a minha visão deste assunto.
Num trabalho de verão, rude, desgastante e mal pago, vítimas de vidas lixadas desde cedo, pela pobreza, por poucos sonhos, por poucas esperanças, conhecem-se e tornam-se amigos dois homens de sonhos modestos. Um quer ser campeão de rodeos, o outro quer casar com Alma, sua namorada, quando terminar aquele contrato sasonal, de guardar ovelhas na montanha. Partilham o trabalho, os alimentos, os sonhos não realizados, as histórias desinteressantes de suas vidas, os pequenos-grandes males que preencheram as suas existências, na América rural dos anos 60.
Um dia, ao arrepio das suas convicções verbalizadas, tornam-se amantes.
Não aceitam esta situação e vão em busca de rumos diferentes para as suas vidas.
Casam, têm filhos, organizam-se em termos de emprego e querem esquecer o verão que deixou marcas de vergonha e humilhação nas suas vidas. Querem viver como a sua sociedade os possa aceitar, num modelo de vida que os não faça sentir-se no opróbio.
E passam a encontrar-se, uma ou duas vezes por ano, sob pretexto de acampamentos e pescarias, para um rito de repetição do nunca esquecido e amaldiçoado amor de verão.
Não consigo ver estes encontros como dias de alegria ou festa. Seriam sempre dias de fuga, de desespero, por todos os outros dias de ausência e de falsas vivências. Aos filhos, amaram-nos, sem dúvida. Às mulheres das suas vidas, não. Mas elas estiveram com eles. Nunca quiseram aprofundar o que os juntava, de longe em longe, pois viviam em Estados diferentes.
Há uma teia de relações que nos faz sentir esmagados, nos ambientes intimistas em que o filme nos envolve, por um período de acção correspondendo a duas décadas daquelas vidas, sem nunca conseguirmos ser juízes nem condenar. Aqueles homens não viveram um romance, viveram uma agonia partilhada, um duplo suicídio lento, lento, lento…
Julga ou condena quem fôr capaz.
<< Home