Monday, September 11, 2006

Reparação

Hoje, vou reparar a injustiça de nunca ter postado algo de Francisco José Viegas. Um autor que admiro imenso. Cujas palavras me tocam profundamente.













Uma marca de algum fogo. O que nela foste tu
apenas, a dor que causas ou que no corpo se demora.
O amor obriga a esquecer. Estiola, o corpo, demora-se
um pouco mais como uma lembrança, como uma vaga.
É tão pouco, o corpo, tão breve, tão claro o seu prazer,
tão só. Diante dele se morre, se emudece, se não acorda
em ti o calor de um Verão intenso. Diante dele
se morre, se não se abre naquele instante o clarão
em que a tua sede encontra outra sede igual,
ou nem isso, só um corpo, uma condição, uma ventania.

Francisco José Viegas
in O puro e o impuro